TRABALHANDO COM AMOR: SUA RAIZ E FRUTOS
Trabalhar com amor é uma consequência natural da vida cristã. Assim como em uma árvore, deve haver vida em baixo a fim de que haja fruto em cima, aqueles que querem ser trabalhadores felizes e bem-sucedidos, devem ter cuidado, em primeiro lugar e principalmente, de seu próprio estado espiritual. A comunhão deve andar junto com a consagração e sustentar a verdadeira devoção.
Esta é uma época de atividade religiosa, e no meio de muitos trabalhos, Deus pode ser esquecido. Algumas dessas coisas devem ser temidas, como: a substituição das coisas internas pelas externas e o contentar-se com a agitação no serviço e no ministério diante dos homens, enquanto se é quase um estranho para com Deus. Certa vez, fui chamado para visitar uma pessoa que, durante anos, foi um pregador, e que comumente foi o mais importante em muitas coisas externas de natureza religiosa. Encontrei-o muito doente – com a saúde naufragada pelo excesso de esforço em diversas áreas. Sua mente também estava em um estado muito angustiante. Ele foi obrigado a descarregar sua alma, e a reconhecer que, em meio a todas as suas obras religiosas, ele tinha quase inteiramente negligenciado a oração privada e havia percebido o quão pouco tinha feito através poder divino. Seu caminho de volta para a paz foi uma das experiências mais profundas e amargas que ele já teve; mas ele encontrou repouso pela simples fé em Jesus.
Um ministro cristão muito competente disse-me que, certa vez, foi chamado para visitar uma pessoa que estava com a alma em grande agonia, e que reconheceu
diante dele que, embora tivesse mantido um cargo na igreja, e sido superintendente da Escola Dominical durante vinte longos anos, havia negligenciado completamente a oração privada. Havia pouca esperança em sua morte. Quão ilusório e penoso o trabalho religioso pode ser, se este for o estado de um homem diante de Deus!
Esta, então, deve ser a nossa primeira solicitude – vida espiritual e disposição; e a seguinte, levar adiante, todos os dias, uma influência santa e benéfica sobre aqueles entre os quais nos movemos. Devemos estar atentos para não ferir ou ofendê-los pelo discurso descuidado ou com um temperamento desagradável, mas nos esforçarmos para “brilhar” com uma luz doce e bela, mostrando-lhes “as virtudes daquele que nos chamou”.
Se os cristãos se voltassem mais para a edificação mútua, e orassem mais por isso, quão mais bem equipados eles seriam para o testemunho e para o trabalho no que diz respeito ao mundo. A comunhão dos santos prepararia suas almas para a obra; e quanta força é necessária a fim de trabalhar corretamente para a salvação das almas – quanta sabedoria, prudência e paciência são requeridas!
“Nós devemos, como cristãos, impulsionar uns aos outros neste trabalho, e procurar nutrir uma profunda preocupação com a salvação das almas. Oh, precisamos sentir o seu valor e seu perigo, e perceber que é nosso dever nos esforçarmos para “por todos os meios salvar a alguns”! O que queremos é mais amor pelas almas – um amor que nos anime a levar a Palavra de Deus até eles. Semear a verdade em espírito de oração, de maneira sábia, com ternura, com amor, deve ser o nosso objetivo principal. No entanto, nem o corpo, ou as circunstâncias exteriores dos outros, devem ser negligenciadas. Os gentis e benevolentes esforços nessa área devem ser feitos em subserviência ao objetivo maior: “o bem da alma”. O ministério em coisas externas, entre as famílias desafortunadas, muitas vezes ganha a sua atenção, remove seus preconceitos, e finalmente resulta em muito – e até mesmo eterno – bem.
E quem pode enumerar as bem-aventuranças relacionadas com tais trabalhos amorosos? Se os outros são beneficiados, se Deus está satisfeito, deve haver verdadeira bênção para o trabalhador. Por isso, Deus, nosso amoroso Pai, tantas vezes, sim, constantemente, chama o Seu povo à diligência e serviço em todas as áreas – na família, na Igreja e no mundo – e leva em consideração uma maior felicidade para o mesmo, assim como a Sua própria glória. “Se sabeis estas coisas”, disse Jesus, “bem-aventurados sois se as fizerdes” (João 13:17). “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (João 15:8).
Os diligentes serão felizes. Eles, de fato, verão muito da miséria humana que os farão suspirar e sentirão muito de sua própria fraqueza que os farão chorar. Como seu Mestre que, na ocasião da cura do surdo, “olhou para o céu e suspirou” (Marcos 7:34), assim devem Seus seguidores frequentemente fazer. Mas Deus aprovou tanto o Seu ato de cura, quanto o Seu suspiro de tristeza; e assim será com o Seu povo. Nossa vocação é “sermos abençoados e sermos bênçãos” e, assim, provar a verdade das palavras do Senhor: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (Atos 20:35).
E isso não é tudo: o serviço na Terra é um preparo para o serviço no Céu. Somos todos meros aprendizes enquanto estamos aqui, apenas aprendendo nosso glorioso trabalho, que é “glorificar a Deus”. Alguns são mais avançados do que outros, mas o santo mais útil e mais feliz neste serviço, ainda encontra muita necessidade de dizer: “Vivifica-me no teu caminho” (Salmos 119:37); “Ensina-me a fazer a Tua vontade, pois és o meu Deus” (Salmos 143:10); e cada um deve suplicar por todos: “E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra” (2 Tessalonicenses 2:16-17).