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CONVERSAS COM OS PEQUENINOS PARA AS MANHÃS DE DOMINGO – XIII
“O amor é sofredor, é benigno.” 1 Coríntios 13:4
Dia após dia, e noite após noite, onze dias e noites, a mãe do pequeno Freddy o tem segurado no colo. Ela não se trocou e nem se deitou na cama para descansar. Ela não tem saído do quarto, exceto por alguns momentos. Ela parece muito, muito cansada. O pequeno Freddy está doente. Pobre bebê! Ele tem ficado muito quieto no colo de sua mãe. Ele não abre seus brilhantes olhos, nem sorri como costumava fazer quando Alice entra no quarto. Ele não se arrasta para baixo da cama, brincando de esconde-esconde. Ele geme e chora, um pequeno e fraco choro e sofre tristemente. Sua mãe olha para ele e as lágrimas caem de seus olhos. Ela tem medo que ele se vá. Ela se abaixa e beija sua bochecha pálida. Pega um lenço macio, mergulha em água fria e banha sua testa. Às vezes, ela coloca um travesseiro embaixo da cabeça dele e o segura até o braço doer. Às vezes, ela o coloca por cima do ombro e o balança suavemente. Às vezes, ela o coloca no berço por alguns minutos. Com frequência ela caminha com ele nos braços pelo quarto, indo e voltando, indo e voltando, com muita paciência, cantando uma música baixinho. Ela quase não come. Ela não sai para caminhar. Ela não costura, nem lê. Ela não faz nada além de cuidar de seu precioso bebê. Ela está muito cansada, quase doente, mas nem pensa nisso. Ela ama o pequeno Freddy mais do que a si mesma. “O amor é sofredor, é benigno.”
O pai de John está sentado perto da lareira, com uma carta na mão. É do professor, pedindo-lhe para trocar John de escola. O professor diz que ele é um menino mau. Ele é desobediente e problemático. Ele não estuda e tenta impedir os outros garotos de fazer isso. Ele cochicha, dá risada, e não faz o que é mandado. Essa é uma carta triste para um pai ler. Ele está preocupado. Ele mal sabe o que fazer. John tem causado muita tristeza a seu pai. Na manhã seguinte, ele o chama para seu estudo e conversa com ele. Diz a ele como está triste por seu mau comportamento. Ele o lembra de quantas vezes foi punido, de quantas vezes foi gentilmente avisado, e tudo em vão. John vê que seu pai está infeliz, mas não se importa. Ele é retirado daquela escola e enviado para outra, mas não melhora. Todos os dias ele faz alguma coisa malvada. Às vezes, seu pai fala com ele. Às vezes, tem que puni-lo. Muitas vezes, lamenta tristemente por ele. Frequentemente, se você pudesse vê-lo na noite escura, depois que todos estivessem na cama, você o veria orando por seu filho. Mas não perde a paciência com ele. Não o manda para longe de casa e diz para nunca mais voltar. Ele compra livros, animais de estimação e ferramentas, esperando conquistá-lo. Não faz muito tempo que ele lhe deu um novo trenó, porque por um dia ele não foi desobediente. O pai de John nunca para de tentar torná-lo um bom garoto, embora ele lhe cause muitos problemas, pois ele ama seu filho. “O amor é sofredor, é benigno.”
Em um porão de aparência pobre, onde o sol agradável nunca brilha, sem nenhum tapete no chão, sem cadeiras para sentar, quase sem fogo no fogão, Ellen se senta em um banquinho, costurando muito rápido e parecendo muito pálida. Já é quase noite. Ela ouve um passo e fica mais pálida ainda. Alguém abre a porta e entra cambaleando na sala. É o pai dela. Ela vai até ele para ajudá-lo a se sentar, pois ele parece incapaz de andar. Ele não aceita ajuda. Fala palavras muito desagradáveis para ela, e quando ela se aproxima e pede para segurar sua mão, ele a empurra e então cai no chão. O pai de Ellen bebe rum, e isso o deixa fora de si, de modo que ele não sabe o que faz. Ele já teve muito carinho por Ellen. Quando ela era um bebê, costumava segurá-la no colo – como seu pai faz com você –, mas quando os homens começam a beber bebidas alcoólicas, isso afasta o amor de suas esposas e filhos e os torna muito desumanos e rudes. Ellen não fala palavras ruins para o pai. Quando ela percebe que ele não consegue se levantar sozinho, ela volta e segura a mão dele, e ele se senta em um banquinho perto do fogão. Então, ela vai silenciosamente até o armário e traz seu jantar. Um pedaço de pão seco e uma batata fria, sem manteiga, sem carne, sem chá. Isso é tudo o que ela tem em casa. Seu pai gasta todo o dinheiro com bebida e, muitas vezes, a pobre Ellen quase morre de fome. Toda a comida que ela e seu pai têm ela compra com o pouco dinheiro que ganha costurando, e ele tiraria isso dela, se pudesse. Ellen coloca o pão, a batata e uma caneca de água sobre a mesa e diz: “Pai, seu jantar está pronto”. Oh, como ele fala quando se senta! Ele usa uma linguagem horrível. Ele está com raiva porque não há mais o que comer, embora a culpa seja dele.
Depois de jantar, ele vai se deitar e Ellen se senta sozinha novamente, de volta ao seu trabalho. Lágrimas rolam em seu rosto. Ela se lembra de dias melhores do que esses, quando tinha um pai gentil, uma mãe carinhosa e amorosa, uma querida irmãzinha e um lar alegre. Sua mãe havia morrido um ano antes e a doce bebê não conseguiria viver sem ela. Jesus teve piedade e a levou para casa. Ellen ficou com o pai, e ele não a ama agora. Mas ela o ama e, embora ele a trate com desdém e a assuste, ela nunca responde a ele com desrespeito. Ela trabalha duro para conseguir comida para ele e para si mesma. Ela tenta de todas as maneiras fazê-lo feliz. Ela fala gentilmente com ele quando ele não volta para casa bêbado e canta pequenas canções, pois Ellen sabe cantar muito docemente. Todos os dias ela ora muitas vezes por ele para que Deus tenha piedade e o salve. Eu acho que suas orações serão respondidas. O abençoado Salvador ouve e é muito piedoso. Ele sabe tudo o que acontece. Ele vê todas as lágrimas que a pobre Ellen derrama. Eu creio que Ele dará ao pai dela um novo coração, um coração amável e bondoso, e fará com que ele se arrependa de todos os seus pecados, e dará forças para ele resistir à tentação, e deixar de beber aquilo que causa tanto dano.
Algumas senhoras gentis tentaram convencer Ellen a ir embora de sua casa miserável e disseram que encontrariam uma casa melhor para ela. Mas ela diz: “Não”. Ela nunca deixará seu pai. Ela sempre ficará com ele, e sempre o amará, e fará de tudo para seu conforto. “O amor é sofredor, é benigno.”
Veja Alice brincando com seu irmãozinho no chão. Que menino esperto e feliz ele é! Alice parece cansada. Bem, ela pode estar mesmo. Não é uma tarefa fácil cuidar do pequeno Johnnie, e ela fez isso por várias horas. Ele exige constante cuidado e atenção. Ela não deve esquecer dele nem por um momento. Às vezes, ele engatinha até a lareira e quase alcança um carvão, e Alice precisa pular para salvá-lo de se queimar. Então, ele sobe em uma cadeira e fica lá se balançando para frente e para trás, enquanto seus olhos brilham, e ele grita de alegria, sem saber que poderia cair a qualquer momento, se sua irmã Alice não se sentasse ao seu lado pacientemente, e mantivesse sua mão atrás dele. Depois, ele tenta caminhar através da sala. Um pé pequenino cambaleia após o outro e, então, ele bate a cabeça contra a mesa, e Alice precisa pegá-lo no colo e miar como uma gatinha, cantar como um galo, ou latir como um cachorro, para distraí-lo. É hora do jantar agora. Johnnie deve comer sua refeição. Sua mãe não voltou para casa e Alice deve alimentá-lo. Não há nada que ela goste mais de fazer. É um gracioso “biquinho” de passarinho que se abre cada vez que ela levanta a colher, e ela sempre o beija. Ela o coloca em seu carrinho depois do jantar, e o balança até a hora de dormir, então, ela o deita no berço e, embora esteja muito cansada, ela diz que nunca existiu um irmãozinho tão precioso como o dela e que ninguém pode nem imaginar como ela o ama.
Os anos passam. Johnnie tem seis anos. Alice o ama mais do que nunca, e agora ela está ensinando-o a ler e a soletrar. Mas Johnnie não gosta de aprender. Ele gosta muito mais de brincar com seu carrinho. Ele testa a paciência de sua irmã. Ele se queixa e chora, ou não fica parado, ou decide pegar uma mosca justamente quando ela pensa que ele quase dominou uma palavra difícil. Às vezes, ela fala com ele. Às vezes, ela fica descontente. Às vezes, ela promete uma recompensa se ele prestar atenção. Ela tenta de todas as formas e é gentil e bondosa. Ela, frequentemente, tem medo de que ele cresça sem aprender nada. Se ela não o amasse tanto, desistiria de tentar ensiná-lo. Mas ela olha para o rosto brilhante dele, o cabelo encaracolado e os queridos olhos travessos, e o abraça, e pensa consigo mesma que nunca, nunca dirá que é difícil fazer alguma coisa por seu querido irmão. E assim ela trabalha, dia após dia, e não se cansa.
Lágrimas vêm e vão novamente, e Johnnie tem doze anos. Alice fez muito por ele. Ela tem sido uma professora paciente por seis anos. Palavras nunca poderão contar todos os pensamentos carinhosos, as ações amorosas e os cuidados amáveis que ela dedicou a ele. Graças à sua perseverança, ele conseguiu ler, soletrar e escrever muito corretamente, e aprendeu muitas outras coisas. Ele já é um jovem alto. Eu vejo Alice conversando com ele. Ele acabou de chegar do colégio. Ele tem um cigarro na boca e Alice tem lágrimas nos olhos. Você se pergunta por que ela se sente mal. Ela esperava que seu irmão nunca fumasse. É um hábito sujo. Mas isso não é tudo. Ela sabe o que ele não sabe, que isso prejudicará a saúde dele e estragará sua índole, talvez. Ela sabe que isso o levará para longe de casa e, muito provavelmente, para uma má companhia. Ela viu outros rapazes que começaram com o cigarro, passaram disso para hábitos piores e se tornaram homens muito diferentes daqueles que não têm esses vícios; e ela olha para o seu querido irmão e pensa como o tem amado, orado por ele e esperado que ele fosse um homem bom, e seu coração fica triste. Ela não consegue suportar que ele adquira este primeiro mau hábito.
Mas tudo o que ela diz não adianta. John aprende a fumar. Logo ele começa a achar a companhia de outros garotos que fumam muito mais agradável do que sua família e, noite após noite, ele deseja sair. Se ele não tem permissão, ele fica mal-humorado e rabugento. Seu rosto fica pálido, suas bochechas perdem o seu tom natural. Seus olhos não são mais tão brilhantes como costumavam ser. Ele não é mais tão feliz. Sua consciência o perturba e, como ele está contrariando os desejos daqueles que o rodeiam, ele pensa que eles são seus inimigos e que estão tentando deixá-lo irritado. Ele está nervoso consigo mesmo e com todo mundo. Ele diz coisas muito duras para sua paciente e amorosa irmã. Mas Alice pensa que o ama mais do que nunca. Tamanha compaixão está em seu coração por ele, quando o vê apático, desanimado e infeliz, que deseja poder pegá-lo no colo, como fazia quando ele era bebê, e fazê-lo dormir, para que ele esqueça de todos os seus problemas. Às vezes, ela diz a ele que se ele fizer o que é correto, ficará tão feliz como antes; mas isso o deixa com raiva. Às vezes, ela planeja algo para diverti-lo e interessá-lo, e mantê-lo em casa, mas ele não fica. Ele formou muitos maus hábitos agora e não dá ouvidos ao amor que morreria para salvá-lo. Ela nunca o esquece, aquela irmã paciente. Dia após dia, ela ora pelo bem dele. Ela vive para o conforto dele. Os dedos dela costuram os pontos nas suas roupas. Todos os dias, ela cozinha os pratos que ele mais ama e faz tudo o que está ao seu alcance para agradá-lo. Ela tem medo que ele nunca mais a ame. Ele se torna cada vez menos gentil com ela. Mas isso não faz diferença no coração dela em relação a ele. “O amor é sofredor, é benigno.”
Eu conheço um homem que é fazendeiro. Todo ano ele planta milho, batata e muitas outras coisas em sua fazenda. Ele trabalha duro: acorda cedo e não para de trabalhar até o Sol se pôr. Os agricultores devem trabalhar duro. Eles plantam, semeiam, arrancam ervas daninhas, e fazem todo o possível para fazer suas sementes brotarem e crescerem. Eles podem fazer muito, mas não tudo. Eles podem ter a melhor semente e uma terra fértil, e fazer todo o seu trabalho da melhor maneira. Mas o milho e as batatas não crescerão sem chuva e Sol, e os agricultores não podem fazer chover. Somente Deus pode fazer isso. Este agricultor, de quem estou lhe falando, tem tido boas colheitas por muitos anos. Seus celeiros têm estado cheios de feno, trigo, milho e legumes. Ele tem feito muita manteiga e queijo. Ele teve tudo o que o seu coração poderia desejar. No entanto, todos esses anos ele nunca agradeceu a Deus pela chuva e pelo Sol. Ele nunca se arrependeu de seus pecados. Ele não teve um pensamento amoroso em relação ao Todo-poderoso Amigo. Ele não é um homem bom. No entanto, ano após ano, Deus o abençoa e nunca se cansa de lhe fazer o bem. “O amor é sofredor, é benigno.” “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5:45).
Conheço outro homem, cuja alma, o Senhor tem feito muitas coisas para salvar desde que ele era bebê. Ele tinha um bom lar e pais piedosos. Sua mãe costumava conversar com ele sobre o amor de Jesus e sobre o abençoado lar celestial. Mas ele não estava interessado. Ele foi ensinado desde cedo a orar e ler sua Bíblia, mas logo se esqueceu de fazê-lo. Ele foi à Escola Dominical e ouviu muitos sermões, mas não obedeceu ao que lhe foi ensinado.
O Espírito Santo colocou bons pensamentos em seu coração, mas ele os jogou fora ou fez algo para esquecê-los. A consciência sussurrou para ele, mas ele não a quis ouvir. Parece que ele não queria ver o Céu. Mas o Senhor não o deixará seguir o caminho largo. Deus olha para ele todos os dias. Ele lhe dá muitas bênçãos, esperando, em troca, amor. Às vezes, Ele lhe envia doenças, para ensinar-lhe submissão e paciência e lembrá-lo de que ele não viverá para sempre neste mundo. Às vezes, Ele lhe dá riquezas, para que em sua prosperidade ele se lembre do Doador. Às vezes, Ele dá asas às suas riquezas, e elas voam para longe, para que ele aprenda a guardar seus tesouros no Céu. Às vezes, ele é afligido, para que possa se lembrar de Jesus, que era um homem de dores e familiarizado com a dor, que não tinha onde repousar a cabeça e que voluntariamente morreu por ele. Deus não deixará nada por fazer para convencê-lo, se possível, a se arrepender e ser salvo. Por quê? Porque Ele o ama. “O amor é sofredor, é benigno.” “O Senhor… é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pedro 3:9).
Por Sophia Goodrich Ashton