Da mesma autora de A História dos Reformadores para Crianças!
Em Doze Homens Nobres, você vai conhecer a história de pessoas que são verdadeiros exemplos de como Deus ama, cuida, perdoa, resgata, guia e transforma vidas para Sua honra e glória.
Caminhe através da história da vida de:
• Um órfão que se considerava como um pardal de Deus;
• O filho de um estalajadeiro que se tornou um grande pregador;
• Dois irmãos que fundaram um grande movimento cristão;
• Um menino que se tornou ministro do parlamento inglês e trabalhou em favor dos escravizados;
• Um jovem que dedicou sua vida e seu dinheiro para cuidar dos prisioneiros e dos doentes;
• Um monge que conheceu a Verdade e pregou corajosamente sobre a salvação em Jesus;
• Um obediente menino que se tornou pastor e pregava para o rei da Prússia;
• Um marinheiro que, depois de salvo por Jesus, escreveu muitos belos hinos cantados até hoje;
• Um sacerdote que abandonou a riqueza e as honrarias para se tornar um verdadeiro servo de Cristo;
• Um verdadeiro herói que trabalhou incansavelmente pelos mais pobres e desamparados;
• Um corajoso jovem missionário que deu sua vida para anunciar o Evangelho;
• Um menino pobre que desejou e perseverou até se tornar sábio.
1. UM DOS PARDAIS DE DEUS: A História de Martin Boos
2. O FILHO DO ESTALAJADEIRO: A História de George Whitefield
3. OS DOIS IRMÃOS: A História de John e Charles Wesley
4. O AMIGO DO HOMEM POBRE: A História de William Wilberforce
5. O AMIGO DO PRISIONEIRO: A História de John Howard
6. O MENINO DO ARNO: A História de Girolamo Savonarola
7. UM DOS SANTOS: A História de Luigi De Sanctis
8. UMA VIDA FELIZ: A História de Frederick W. Krummacher
9. O CANTOR E MARINHEIRO: A História de John Newton
10. UM VERDADEIRO HERÓI: A História de Roger Miller
11. O MISSIONÁRIO DE SUMATRA: A História de Henry Lyman
12. O MENINO QUE QUERIA SER SÁBIO: A História do Reverendo Jonas King
“As vidas desses homens são úteis para nos dar bons exemplos e nos mostrar como um espírito honesto e sincero pode superar as dificuldades, e quantas coisas boas um homem pode realizar quando realmente tenta.”
Julia McNair Wright
Certa vez, quando Jesus estava pregando, Ele disse ao povo, a fim de incentivá-los a confiar no cuidado de Deus para com eles: “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mateus 10:29, 31).
Eu tenho uma história para contar-lhe de alguém que, por toda a sua vida, foi como um pobre, solitário e indefeso pardal, mas Deus cuidou dele, e também fez dele uma grande bênção. Este homem era mais valioso do que milhões de pardais, mas aprendeu muitas lições com esses pequeninos pássaros. Seu nome era Martin Boos, e ele nasceu na Baviera, há mais de 250 anos. Quando eu lhe disser que Martin tinha quinze irmãos e irmãs, você dirá: “Oh, que grande família de pardais!”. E, com certeza, a sua casa era como um ninho cheio de pássaros jovens e barulhentos.
O Sr. Boos era agricultor; ele tinha uma pequena casa vermelha, campos verdes, cercas vivas, um celeiro, vinte vacas e quatro cavalos. Havia duas crianças mais jovens que Martin, e a mais velha de toda a família era uma garota chamada Kate. Ela tinha dezoito anos e era uma boa irmã.
Quando Martin tinha cinco anos de idade, uma terrível doença apareceu em sua vizinhança. Primeiro os bebês de sua família — dois meninos — morreram; depois, a mãe de Martin; então, duas de suas irmãzinhas; e, por último, seu pai. Doze crianças ficaram órfãs na casa do Sr. Boos; elas eram pardais de Deus e Ele se importava com elas. A fazenda, as vacas e os cavalos foram vendidos, e o dinheiro foi usado para colocar os meninos e meninas em boas casas e escolas. A irmã mais velha ia se casar, e todos tiveram suas necessidades supridas, com exceção do pequeno Martin. O que deveria ser feito com ele?
Kate teve uma boa ideia. Sua mãe tinha um irmão que morava na cidade de Augsburgo. Seu nome era Koegel, ele era um advogado rico, mas nunca pareceu se importar com sua irmã ou com seus filhos. Kate disse que pretendia levar Martin para o seu tio; ela tinha certeza de que ele amaria um companheirinho tão esperto. Em uma manhã de segunda-feira, no início do outono, Kate levantou-se muito antes do dia nascer, lavou e vestiu o irmão mais novo, fazendo-o parecer o melhor possível, depois colocou um lanche de pão e queijo em sua bolsa e partiu para Augsburgo.
Martin era uma criança forte e saudável, mas ele era muito pequeno e, claro, logo se cansou. Quando ficou cansado, Kate o colocou nas costas e seguiu em frente. Era um longo caminho a percorrer e, à tarde, Martin estava cansado, zangado e com sono, e a pobre Kate sentia como se mal conseguisse carregá-lo por mais tempo. Ela entrou em um milharal e se sentou. Ela olhou para o rosto vermelho e zangado de Martin e disse:
— Meu rapaz, seu tio Koegel não vai gostar da sua aparência se ele o vir nesse estado.
Ela, então, fez uma cama de palhas, colocou Martin nela, sentou-se ao lado dele até que adormecesse e, depois, cobrindo-o com seu xale, preparou-se para percorrer os três quilômetros restantes em direção a Augsburgo e ver seu tio. Ela pediu a Deus para cuidar de seu irmãozinho quando o deixou sozinho.
Pobre Martin! Não era ele agora como um passarinho perdido, deixado sozinho no milharal? Kate foi até o tio e contou-lhe todo o problema da família. Ela explicou como as doze crianças haviam sido acolhidas, exceto o pequeno Martin, e que queria que o tio Koegel o adotasse.
— Muito bem! — disse o seu tio. — Não há como negar, ele é filho da minha irmã, e eu suponho que devo ficar com ele, mas eu e minha esposa sabemos pouco sobre crianças. Eu não vejo para que elas servem.
— Para se tornarem homens e mulheres — disse Kate.
— Você pode me trazer a criança. Eu não posso ir buscá-la; meu tempo vale dinheiro — disse o advogado Koegel.
— Ele estará aqui em duas horas — disse Kate.
— Onde você o deixou? — perguntou ele.
— Dormindo em um milharal — respondeu a irmã.
O coração de Kate estava leve e ela caminhou rapidamente para pegar seu irmãozinho. Ela sabia que, embora seu tio fosse estranho e frio, ele não seria rude, e que tinha meios de sustentar Martin.
O menino estava mais simpático depois de sua longa soneca. Kate lavou as bochechas rosadas, arrumou o cabelo loiro e deu-lhe um pretzel que comprara na cidade e, tomando-o pela mão, levou-o logo à presença do tio.
— Como você o trouxe? — perguntou o Sr. Koegel.
— Nas minhas costas desde casa — disse a valente Kate.
— Você é uma menina corajosa! — disse ele, sorrindo. — Fique alguns dias e eu lhe darei um presente.
— Sim, fique! — disse a esposa. — Ou o menino ficará sozinho. Não posso suportar o choro de uma criança.
Martin não queria ficar em Augsburgo. Ele chorou para voltar com sua irmã para sua antiga casa. Achando que ele não poderia ser consolado, Kate acordou cedo no terceiro dia e, deixando Martin dormindo, partiu para sua antiga morada.
Quando Martin descobriu que ela havia ido embora, ele gritou e chorou.
— O que deve ser feito com ele? — perguntou sua tia no café da manhã, quando ele não conseguia comer por causa do choro.
— Ele é muito velho para um berçário — disse seu tio, desconfortável.
— Vamos mandá-lo para a escola; então, ele ficará longe — disse a tia.
— Muito bem! — disse seu tio.
Assim, depois do café da manhã, ele levou a criança a um velho professor que ensinava as crianças das oito da manhã às cinco da tarde, dando-lhes um intervalo e uma hora ao meio-dia para ir almoçar em casa. Lá ficou Martin, ano após ano. Seu tio e tia lhe davam comida e roupas e o levavam para a igreja aos domingos, mas nunca lhe ensinavam nada, nem sequer perguntavam o que ele aprendera ou no que ele se dava bem: mal sabiam se ele havia aprendido a ler.
Um dia, quando Martin tinha onze anos, ele foi ao seu tio de manhã cedo, dizendo:
— Por favor, tio, hoje é dia quatro. O senhor poderia me dar dinheiro para pagar minha escola?
Seu tio gritou grosseiramente:
— Aí está! Dinheiro da escola de novo! Ora, eu te mandei para a escola esses seis anos, agora é hora de te colocar para aprender um ofício, onde você poderá ganhar a vida. Diga garoto, o que você gostaria de ser?
Martin abaixou a cabeça e disse timidamente:
— Se o senhor permitir, tio, eu gostaria de ficar na escola e aprender o suficiente para ser um clérigo. Não gosto de comércio.
— Você um clérigo! — gritou seu tio. — Ora, você não tem nem dinheiro nem inteligência suficiente para isso.
Esta foi uma triste recusa para o pobre Martin. Ele saiu e sentou-se em um banco de pedra atrás da porta de trás e chorou amargamente.
Logo, ele ouviu seu tio chamando:
— Venha, venha tomar seu café da manhã, e depois leve um recado meu para o seu professor. Eu conhecerei os seus méritos em breve.
O bilhete perguntava ao professor que tipo de garoto Martin era na escola. A resposta foi enviada quando ele voltou para o jantar. O velho professor já era o melhor amigo de Martin; ele escreveu muito gentilmente ao Sr. Koegel. Ele disse que Martin era o melhor e mais esperto garoto da escola, que ele era um estudante muito bom do latim e que seria um grande pecado interromper os estudos de um rapaz de tão grande talento.
Bem, enquanto Martin leva para casa este recado, vamos ver como Deus cuidou até agora deste seu pequeno pardal.
“Se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá”, diz a Escritura, no Salmo 27:10. Quando o pai e a mãe de Martin morreram, Deus se levantou para protegê-lo: Deus lhe deu comida, roupas e abrigo. Deus também lhe deu o professor como amigo para alegrar seu pequeno coração solitário; e agora, quando a mente de Martin estava como uma flor desabrochando, veremos como Deus o sustentou.
Quando o Sr. Koegel leu a nota, ele sorriu. Ele ficou tão contente ao saber que Martin era um rapaz esperto que deu um assobio; e em seguida, disse:
— Latim! Oh, Oh, Oh! Latim, rapaz! Por que você não me contou sobre esse latim antes?
— Eu tive medo que o senhor pensasse que pareceria muito pretensioso para um menino pobre como eu falar latim.
— Latim! — disse Koegel, lendo a nota novamente. — Oh, e “um rapaz inteligente, e um bom menino”. Venha agora, rapaz, aperte minha mão; você deve ir para a faculdade e ser um clérigo.
A família de Martin era católica romana. Seu tio não perguntou se era porque ele amava a Deus e desejava servi-Lo e ajudar os homens a serem melhores, que ele escolheu ser um clérigo. Não; ele sabia que Martin só queria ser isso para ter uma boa casa, dinheiro para viver e muito estudo. Martin, seu tio e seu professor, achavam que essas visões estavam corretas; eles não conheciam outras. O Sr. Koegel enviou Martin para o colégio dos jesuítas de São Salvador. Ele estudou lá por cinco anos. Ele era quase um jovem e era conhecido como um grande estudioso. Estava prestes a estudar lógica no liceu e, como era férias, foi para a casa do seu tio.
No momento em que o Sr. Koegel encontrou Martin depois de sua ausência, ele gritou:
— Onde você esteve todo esse tempo? Espero que você seja nesse momento um grande estudioso. Olhe, Martin, eu não me importo com esses jesuítas; eles não fazem de seus alunos homens sábios. Amanhã você deve começar a universidade em Dillingen, então, volte hoje a São Salvador e pegue seu diploma com esses jesuítas, para que os professores em Dillingen possam recebê-lo alegremente.
Martin pegou um cavalo e voltou para o colégio para pedir seus certificados de conhecimento e boa conduta, mas os jesuítas não quiseram dá-los a ele. Em Dillingen, havia alguns homens bons e piedosos entre os professores — um deles chamava-se Sailer e outro Zimmer — e muitos de seus alunos estavam começando a ler suas Bíblias e a pensar por si mesmos. Os jesuítas odiavam esta escola. Eles eram como homens preparando uma armadilha para capturar a alma desse pobre pardal. Eles disseram:
— Veja, Martin, Dillingen é um lugar ruim; você não conseguirá nada de bom lá. Fique aqui conosco, e nós lhe daremos um lugar como professor particular, onde você será bem pago e poderá estudar livre de despesas e terá dinheiro no seu bolso. Vá dizer isso ao seu tio.
Os jesuítas eram muito espertos; eles sabiam que o tio Koegel gostava de dinheiro. Mas você sabe que Deus diz em Sua Palavra que quando seus pássaros forem pegos em armadilhas, as armadilhas serão quebradas e os passarinhos escaparão (Salmos 124:7); e assim foi neste caso. O colégio de São Salvador ficava muito próximo de Augsburgo, e Martin correu de volta até seu tio para contar o que havia sido dito por seus professores.
O Sr. Koegel não foi convencido pela proposta de seu sobrinho ganhar dinheiro. Ele se irou e gritou:
— Isso é típico dos jesuítas! Eles odeiam todos os professores, menos eles mesmos. Você vai para Dillingen; e agora vá aos jesuítas e diga que se eles não lhe derem os seus certificados eu vou encontrar uma maneira de obrigá-los a fazer isso.
Os professores tinham medo do advogado Koegel e deram a Martin seus documentos.
Martin foi para Dillingen, uma cidade da Baviera, pensando, pelo que tinha ouvido, que seria um lugar muito ruim; mas lá ele aprendeu a amar seus bons professores e foi muito feliz. Seus professores ficaram tão satisfeitos com sua boa conduta, bons modos e hábitos de estudo, que escreveram ao Sr. Koegel elogiando Martin grandemente. Ele ficou mais gentil com seu sobrinho, quando todos começaram a falar bem dele.
Durante quatro anos, Martin estudou na Dillingen; tinha agora vinte anos de idade, havia concluído seus estudos preparatórios e estava pronto para ser padre. Martin sempre foi chamado de bom rapaz. Ele não tinha conhecimento de Jesus como Salvador, nem de si mesmo como grande pecador; ele se considerava um sujeito bom e adequado, bastante apto a ser um padre e, como o jovem da Bíblia, teria dito: “Que me falta ainda?” (Mateus 19:20). Seu tio pensava a mesma coisa a respeito dele.
O Sr. Koegel estava muito ansioso para que seu sobrinho fosse ordenado padre. Martin tinha estado com febre e estava com medo de fracassar no exame, mas foi para Augsburgo com outros jovens e passou com tanto crédito que todos falavam bem dele, e sua alegria e orgulho eram grandes. Ele agora era um padre e tinha permissão para celebrar a missa em uma grande e antiga igreja em Augsburgo. Seu tio estava lá, e mais de quinhentas pessoas e trinta sacerdotes, que vieram agradar o velho advogado. O Sr. Koegel ficou tão orgulhoso e feliz com o sucesso do sobrinho que fez o que chamaríamos de uma coisa muito estranha. Ele deu uma festa que durou três dias! Martin foi à festa e gostou muito.
Martin estudou um pouco mais e logo conseguiu um lugar como pregador em uma grande cidade. O nome da cidade é tão longo que eu não gostaria de incomodar os pequeninos com isso. O bom ensino que Martin Boos tivera em Dillingen tinha dado a ele a capacidade de pensar. Ele não era superficial, e quando se viu pregando para pobres almas ignorantes todo domingo, ele começou a se perguntar o que deveria dizer e fazer para fazê-las viver bem e morrer felizes.
Eu mostrei a você como Deus cuidou do corpo e da mente de Martin, e agora vou lhe contar como Ele cuidou da sua alma.
Quando Martin começou a pensar sobre o estado de seu povo, concluiu que o melhor que poderia fazer seria se tornar um homem muito santo e viver uma vida muito piedosa diante deles. Ele não sabia que somente Deus pode tornar um homem santo e que uma vida santa começa em um novo coração — um coração lavado no sangue do Senhor Jesus.
Martin Boos pensava que a maneira de ser santo era jejuar muitas vezes, orar com frequência, dar muito aos pobres e fazer qualquer coisa que fosse desagradável para si mesmo. Ele estava tentando achar o seu próprio caminho para o Céu.
Martin foi tão sério em seus esforços para ser muito santo que as pessoas se interessaram por ele e, uma vez que nenhuma delas conhecia mais sobre religião do que ele, elas acreditavam que Martin era um santo maravilhoso. Ele ficava muito tempo na igreja e no cemitério, e dava sua própria comida aos pobres. Ele não estava fingindo; ele realmente estava tentando ser bom. Por causa desse tipo de bondade, ele foi nomeado chefe de um convento de jesuítas. Esta foi uma grande honra, mas isso não o fez feliz. Ele foi chamado de homem santo, mas, como ele disse depois, sua bondade era toda um formalismo; ele tinha medo de morrer; ele era cheio de preocupações e agonia; sua alma não tinha descanso; ele estava sempre clamando: “O que devo fazer?”
Martin era tão querido por todos que moravam na cidade que seus irmãos monges no convento ficaram com ciúmes. Eles não eram homens bons, e o odiavam muito. Eles liam suas cartas, rasgavam seus livros, interrompiam suas orações, chamavam-no de nomes feios e falavam indelicadezas sobre ele. Ele ficou muito triste e, finalmente, um bom bispo que era seu amigo perguntou se ele gostaria de ir para uma pequena igreja rural e ser o sacerdote deles.
— Oh, sim, sim! — disse Martin ansiosamente.
— Não será tão honroso quanto o lugar que você ocupa no convento — disse seu amigo.
— Eu não me importo com isso — disse Martin —, se eu puder apenas ter paz. Meu coração vai se despedaçar se eu brigar com alguém.
Então, Martin Boos foi para a pequena e pobre igreja e começou a ensinar o povo da melhor maneira que podia, mas ainda sabia muito pouco daquilo que tem realmente valor. Ele era o que a Bíblia chama em Mateus 15:14 de “cegos, guias de cegos”. Ele era muito bom para com os doentes e pobres, e os visitava muitas vezes. A Bíblia diz: “aquele que atende também será atendido” (Provérbios 11:25 — Almeida Corrigida Fiel — ACF), e você verá como isso foi verdade no caso de Martin.
Um dia, ele foi ver uma mulher pobre e doente que estava prestes a morrer; ele tentou animá-la e disse:
— Você morrerá muito bem e feliz.
— Por quê? — perguntou calmamente a pobre mulher moribunda.
— Porque você viveu muito bem — respondeu Boos. Todos dizem que você é uma mulher muito boa, e que você levou uma vida piedosa e santa. Claro que você morrerá bem.
A mulher sorriu e depois disse seriamente:
— Sr. Boos, se eu sair deste mundo confiando em meus próprios méritos para me salvar, estarei perdida. Mas eu tenho um Salvador; Jesus morreu por mim, e assim eu posso morrer feliz. Oh, senhor, um clérigo como você deveria ser capaz de falar aos que estão morrendo sobre Cristo e Seu sangue que lava o pecado. Se eu soubesse apenas o que você pode me dizer, quão miserável eu seria! Como eu poderia estar diante de Deus e responder por todas as minhas palavras ociosas? Como eu poderia encontrar em minha vida um ato realmente bom e santo? Se Cristo não tivesse morrido por mim, eu estaria perdida, senhor. Se eu tenho vivido uma vida cristã, só a tenho vivido por Sua graça. Jesus é a minha esperança, Ele me salva, Ele me fará feliz no Céu, Nele estou feliz agora, mesmo morrendo.
Martin tinha ido a esta casa para ensinar e consolar; mas ele se viu sendo ensinado por essa mulher que havia aprendido a verdade sobre Deus. Boos não era orgulhoso; ele não desprezou as palavras da pobre mulher doente. Pelo contrário, ele acreditou nelas. Ele disse:
— Aqui está o que eu procurava; aqui está a verdadeira fé. Procurarei por Jesus como meu Salvador; onde O encontrarei? — ele perguntou isso à pobre mulher.
— Você vai encontrá-Lo em Seu livro, a Bíblia — disse ela.
Deus diz que Ele não suporta um coração orgulhoso, mas ama habitar com quem tem um espírito humilde (Salmos 101:5; Isaías 57:15). Martin humildemente tomou a pobre mulher que morria como sua professora e, como ela lhe dissera para estudar a Bíblia, ele procurou uma assim que chegou em casa. Agora ele estava verdadeiramente feliz. Ele não carregava mais o fardo de seus pecados; ele havia colocado todos no querido Salvador. Agora ele podia mostrar aos homens o caminho da vida; ele não mais lhes ordenou que se salvassem com jejuns e esmolas, mas lhes falou do Cordeiro de Deus, que havia pago todas as dívidas deles. Esse era um ensino tão novo na Áustria, onde Martin trabalhava, que multidões vinham de todos os lados para ouvi-lo. Em nosso país, esta Boa Notícia é pregada por milhares de ministros todas as semanas, mas na Áustria, especialmente na época de Martin, as pessoas não se atreviam a dizer que a salvação vem somente através de Cristo.
Assim que Boos começou a pregar dessa maneira, os sacerdotes o odiaram e fizeram tudo o que podiam contra ele. Eles não ousaram matá-lo, como fizeram com os homens santos há muito tempo, como eu lhe contei na vida de Huss e Wishart; mas expulsaram Martin de sua casa, tomaram sua igreja e o colocaram na prisão.
Vou contar uma pequena história para mostrar como Martin era bondoso e como Deus cuidava dele. Antes de Martin ser expulso de sua casa, ele sepultou um homem e uma mulher que deixaram um filho único, um pobre menino órfão. Este menino ficou chorando no túmulo de seus pais. Boos tomou-o nos braços e o consolou, deu-lhe o único xelim que ele tinha no mundo e o levou a uma casa onde algumas pessoas amáveis deixaram a criança desamparada ficar; e todos os dias, depois disso, Boos visitou o menino e o ensinou a ler e servir a Deus.
Tempos depois, o menino foi levado por seus parentes. Ele cresceu e se tornou um homem rico e coronel do exército austríaco. Isto aconteceu quando Boos estava velho, pobre e era um prisioneiro. O oficial encontrou Boos em grande miséria, e embora não pudesse tirá-lo da prisão, ele o visitava todos os dias e trazia tudo o que encontrava para deixá-lo mais confortável. Se Boos dissesse que seu amigo estava fazendo muito por ele, o coronel responderia: “Ah não, você me deu seu último xelim quando eu era um pobre menino órfão; você me amou e me ensinou; e nada me dá mais prazer do que ajudar você”. Isto é o que a Bíblia quer dizer quando diz: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” (Eclesiastes 11:1).
Boos ficou em várias prisões. Um dia, ele estava sentado embaixo da pequena janela da sua cela; ele estava sozinho e com fome; ele queria escrever e ler, mas seus cruéis inimigos não lhe davam livros, papel ou canetas. Quando ele se sentou lá viu uma corda ser suspensa diante da sua janela. Depois de um tempo, ele a segurou. Então, alguém do telhado acima soltou-lhe um peru assado amarrado à corda. Dentro do peru ele encontrou cartas, um Novo Testamento, papel, uma caneta e uma pequena garrafa de tinta. Você não acha que esse foi um recheio muito estranho para um peru?
Ele escreveu cartas para seus amigos, mas não sabia como enviá-las. Os carcereiros as tomariam se soubessem delas. Todos os dias alguém andava no salão perto de sua cela e cantava suavemente uma linha do hino de Lutero: “Castelo forte é nosso Deus”. Martin sabia que era um amigo procurando por cartas. Ele olhou para o chão e viu um ratinho correndo por um buraco que ele havia roído debaixo da porta. “Muito bom”, disse Boos; e, fazendo um rolinho com sua carta, ele a empurrou para fora depois que o rato havia passado, e o amigo cantor a pegou. Logo houve uma resposta enviada da mesma maneira. Que curioso! Esta era a Agência dos Correios Buraco de Rato, não era?
Assim, você vê como Deus cuidou da alma de Martin e lhe enviou o conhecimento sobre Jesus pela boca de uma pobre mulher; e quando Martin foi posto na prisão por causa de Cristo, Deus cuidou dele, e enviou-lhe amigos e ajuda de um jeito ou de outro.
Depois de um longo tempo e muitos problemas, Boos foi liberto da prisão e conseguiu uma pequena igreja em Sayn. Na noite em que ele saiu da prisão, alguns amigos se encontraram em uma casa para recebê-lo. Ele foi até lá, mas estava tão pálido e magro que não o reconheceram até que ele disse:
— O quê! Vocês não me reconhecem? — Então, eles se amontoaram sobre ele!
Martin Boos fez um bom trabalho em Sayn. Ele estava ficando velho e fraco, e como vivia sozinho alguns de seus amigos distantes disseram:
— O que será dele? Ele pode ficar doente e morrer sozinho.
— Oh! — disse Martin. — Eu sou um pardal de Deus, e Ele cuidará de mim, como sempre fez.
Com certeza, foi assim. Um dia, Martin sentou-se sozinho debaixo de uma árvore. Ele estava muito fraco e sentia-se triste. Um jovem com uma mala de viagem na mão passou pelo portão. Ele havia percorrido um longo caminho; ele tinha ouvido falar do bom Martin Boos, e Deus colocou em seu coração ir morar com ele e cuidar dele.
O jovem disse a Martin:
— Eu serei seu filho; vou ajudá-lo a ensinar seu povo. Vou cuidar de você quando estiver doente e vou ler para você quando estiver cego.
Deus não cuidou bem de Martin Boos?
O jovem ficou lá enquanto Boos viveu. Martin morreu muito feliz; ele não tinha medo, nem dor. Suas últimas palavras foram: “Senhor, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Então, ele foi para o Céu. Não é muito bom ser um dos pardais de Deus?
“Um bom exemplo vale mais que prata e ouro.”
Julia McNair Wright